Finalmente, o labor mostrou profícuo: o fio da Simplicidade se desprendeu do manto da Complexidade. Assimilando e direcionando o saber de áreas como a Teoria Geral dos Sistemas e a Teoria da Comunicação, nasceu a Cibernética, que corporifica, sobretudo, substancial mudança de pontos de vista. Os fenômenos, que já existiam, permaneceram os mesmos – modificaram-se nossos critérios de avaliação. Ashby registra que a energética, cujo estudo foi tão importante para a fase anterior vivida pela humanidade, visa à razão dos conhecimentos. Procura saber, por exemplo, por que um óvulo de transforma num elefante. A Cibernética visa a um conjunto de possibilidades mais amplo que o real. A materialidade, assim como as leis comuns da física, são irrelevantes. A Cibernética está para máquina real assim como a geometria está para o objeto real, isto é, assume como temática o domínio de todas as máquinas possíveis. Não é importante se algumas delas já foram construídas pelo homem, ou pela natureza, ou se o sistema é aberto ou fechado. Vale mais a extensão em que esteja sujeito a fatores de determinação e controle. Deste modo, nenhuma informação ou fator determinante pode circular de uma parte para outra, sem ser registrado como evento significativo.
Siwek, citado por Ramón Torres, afirma que somente os seres vivos podem atingir a perfeição. A partir de extraordinárias transformações que se iniciam na concepção e se sucedem na indecifrada escalada auxológica, os seres vivos se plasmam a si mesmo, constituindo-se em sujeitos de sua própria construção. Inacabado ao nascer, transitivo ao viver, o ser vivo tem a propriedade intrínseca e imanente de, em relação dialética ao seu ecossistema, perfazer-se à plenitude de suas potencialidades, isto é, atingir a perfeição.
Modernamente, se afirma que os seres vivos obedecem ao princípio da Auto-organização. A realidade possui múltiplas facetas, de modo que é impossível conhecê-la em todos os seus aspectos. De modo geral, percebemos a natureza com dois aspectos bem distintos, o inorgânico e o orgânico, ou o físico e o biológico. No esforço de compreensão do que nos cerca, construímos metáforas que são aproximações imperfeitas da realidade. As ciências biológicas foram profundamente influenciadas por princípios, leis e teorias que foram absorvidas das ciências físicas, que tratam do mundo inorgânico. Os ensinamentos de Descartes e Newton, substanciando o reducionismo e o mecanicismo, modelaram hipóteses e teorias que constituíram a base do progresso científico desfrutado pela humanidade. Entretanto, como nos advertiu Popper, a verdade das teorias científicas é apenas transitória, porque a ciência é uma diuturna procura da verdade. A demais, como afirma Atlan, a solução de um problema científico gera novas questões que flanavam despercebidas, no aguardo do desbloqueio epistemológico que as tornassem acessíveis. Todas as metáforas criadas à luz do paradigma reducionista _ relógio, máquina a vapor, etc _, ajudaram a melhorar os conhecimentos sobre o homem, sobre a vida. Sendo assim, a ciência clássica foi muito útil para explicar os fenômenos típicos do nível de realidade comum como, por exemplo, os movimentos dos astros. Todavia, a pesquisa macrofísica e a dos mundos atômico e subatômico, que auspiciou o advento da física relativística e da física quântica, provocaram comoções que abalaram a estrutura conceitual da cosmovisão mecanicista, que percebia um mundo sob a hegemonia da ordem, girando ao tique-taque do relógio cartesiano.
A constatação de que a ordem e a desordem, a ortodoxo e o paradoxo, coexistem criativamente no universo, nos levou ao questionamento da validade da cosmovisão mecanicista. As deficiências desse modelo que, buscando a simplificação, descortinou a complexidade, sinalizaram a necessidade de um novo modelo que permitisse uma discriminação mais nítida, abrangente e sutil da realidade. Vivemos uma transição em que, no vórtice de uma crise epistemológica, um novo paradigma parece emergir. Sua denominação ainda não é consensual: sistêmico, holístico, ecológico, holográfico, da complexidade, etc. De seus contornos ainda imprecisos, afloram as seguintes características básicas:
O universo está organizado do micro ao macrocosmo, em sistemas de complexidade crescente; Seres vivos e ambiente interagem entre si, provocando mútuas transformações desenvolvimentais e evolutivas. Os seres vivos são produtos da organização e da complexidade. Na concepção de Morin, são biossistemas que fazem transações com o ambiente, produzindo uma auto-eco-organização. Este conceito decorre do fato de que a vida, desenvolvimento e a evolução dos seres vivos dependem das condições ambientais, mas, ao mesmo tempo em que se transformam nessas transações, os biossistemas também modificam o ambiente. A auto-organização no ser humano compreende todos os processos que ocorrem desde a fecundação e que se estendem por toda a existência. Os sistemas vivos se estruturam de forma multinivelar, em que cada nível constitui uma unidade complexa formada por partes que se integram sob a hegemonia do todo. Observam-se propriedades antagônicas, complementares e concorrentes, visto que um determinado sistema pode ser considerado como um todo, por causa de suas características auto-afirnativas, ou como parte de outro sistema mais complexo, por causa de suas características integrativas. Esses sistemas ambivalentes foram denominados holons por Koestler. Nos seres humanos, consoante o prisma de sua auto-organização, podem ser verificados estratos de organização holonômica com complexidade crescente desde o nível não-celular até o organísmico. Assim, temos o sistema sanguíneo, o nervoso, o muscular, etc. O sistema estomatognático, área de atenção do cirurgião-dentista, é um subsistema do corpo humano, o nível de estratificação holonômica referencial. Em sua composição, células, tecidos e órgãos diversos se aglutinam, constituindo um conjunto de morfologia heterogênea, cujos limites são imprecisos, mas é funcionalmente homogêneo.
A Odontologia representa esplêndida união da ciência, da tecnologia e da arte. Por contingência de sua área de ação, os fatores biológicos e mecânicos têm de ser harmonizados, tendo como objetivo implícito à beleza. O caráter cirúrgico da atividade odontológica também colabora para a exaltação dos fatores mecânicos e estéticos, visto que olhos e mãos dos odontólogos se completam no diálogo sensório-motor que contemplam o ato clínico nessa atmosfera, parece muito natural que esses fatores obscurecessem o primado do biológico e que o mecanicismo impregnasse profunda e incoercivelmente o pensamento odontológico. A perspectiva histórica enseja a verificação de que forças conjunturais do período de diferenciação profissional exacerbaram os anseios de auto-afirmação, fragilizando as conexões integrativas. Sendo, na realidade, uma especialidade médica que se tornou uma profissão à parte, a odontologia ergueu algumas barreiras que obstam o intercâmbio com outras profissões da área de saúde, dificultando o diálogo multiprofissional. A consequência foi o estabelecimento de uma visão reducionista, em que o dente se transformou no centro referencial de toda a cogitação intelectual. Por outro lado, a literatura odontológica está repleta de magníficas obras que visão a transmissão de técnicas. No entanto, por uma deformação conceitual, geralmente essas obras são rotuladas como científicas. Essa confusão transcende a órbita odontológica visto que a sociedade moderna reverencia a tecnologia e, para justificar seus exageros e desacertos, usa argumentos a que atribui cientificidade, isto é, confunde ciência com técnica. A grande maioria das obras de odontologia focaliza técnicas, transmite maneiras de executar cirurgias, prótese, aparelhos odontológicos, cefalogramas, etc. São, portanto, fontes de técnicas e de serviço da tecnologia. A faculdade de odontologia tem grave responsabilidade nessa engrenagem viciosa, porque o ensino odontológico atua produzindo e transmitindo conhecimentos com forte ênfase nos aspectos técnicos. Por tudo isso, o currículo odontológico tradicional reflete e perpetua a cosmovisão reducionista, plasmando cirurgiões-dentistas com formação tecnista e odontocentrista. Por consequência, o cirurgião-dentista tem dificuldades para perceber o significado de mudanças que ocorrem fora, e até mesmo dentro, da profissão, prejudicando sua participação em equipes multiprofissionais e sua integração social e cultural na sociedade.
Com tantas faculdades de Odontologia no Brasil, e particularmente no Rio de Janeiro, a criação de uma nova faculdade somente se justifica pela transcendência do lugar comum de ensino tradicional, configurando uma proposta realmente inovadora, ao impregnar-se com os valores do paradigma sistêmico. Seu escopo deve ser o da formação de um cirurgião-dentista capaz de integrar o mecânico, o estético e o biológico, o científico e o técnico, demonstrando a plena consciência dos aspectos econômicos, sociais, culturais e humanísticos inerentes à tão nobre profissão. Nestas circunstâncias, se afigura bastante oportuna a elaboração de um modelo interpretativo da Ortopedia Dentofacial em bases sistêmicas, realçando a modernidade e a profundidade de um enfoque cibernético e demonstrando o anacronismo e as limitações da abordagem mecanicista. Não se trata absolutamente de forjar uma reação gratuita agressivamente antagônica ao “status quo“, como adverte Mollenhauer. Pelo contrário, o que se pretende é saltar para um novo patamar interpretativo, com o amparo dos conhecimentos que insuflam o progresso científico moderno. Corroborando o acerto de Ashby com relação à aplicação da cibernética à psiquiatria, “o importante não é, pelo menos de imediato, plasmar uma técnica elaborada, mas permitir ver e avaliar de um novo ângulo, velhos e batidos problemas”. Dr. Antonio de Padua Ferreira Bueno em seu livro “Introdução às Bases Cibernéticas da Ortopedia Dentofacial“, diz: “não se deve, todavia, esquecer que a realidade é multifacética, é calidoscópica. Perquiri-la de um novo ponto de vista com uma renovada motivação, pode auspiciar a desvelação de aspectos ainda recônditos e despertar as forças criadoras para uma positiva reformulação de conceitos e preconceitos, de técnicas e condutas.” Parafraseando Aristóteles, não se pode apresentar e propor um modelo, sem historiar sua origem e sua trajetória silogística. Por via de consequência, torna-se axiomático e congruente relembrar as ligações do homem com o cosmo e fazer uma incursão sobre as bases da Biofísica e da Cibernética. O encadeamento articulado dessas razões preliminares facilitará a clarificação dos argumentos que respaldam a interpretação da Ortopedia Dentofacial consoante um ponto de vista sistêmico, em que se valorizam os aspectos cibernéticos.
A auto-organização se promove conforme dois objetivos básicos: a conservação da vida e a perpetuação da espécie. As máquinas têm seu trabalho orientado para um desiderato que não de relaciona com a manutenção de seu funcionamento ou a construção de outras máquinas-filhas. O trabalho biológico parece concentrar-se nessas destinações precípuas: garantir a própria sobrevivência e perpetuar a espécie. Implícitos na auto-organização podem ser detectados os processos de autoconservação, de autotransformação e de autotranscendência. A autoconservação, que se relaciona diretamente com o esforço inato que todo organismo realiza para manter-se vivo, envolve as seguintes atividades biológicas no homem: auto-renovação, homeostase, cura e adaptação.
O homem possui sistema nervoso altamente evoluído, com estruturas dinâmicas que lhe permitem atingir o que se convencionou rotular de consciência. Este atributo lhe permite usufruir os processos de aprendizagem, desenvolvimento e evolução no nível irrealizável por outros seres vivos. Como se mostra insaciável na procura e na conquista do desconhecido, o homem, por meio desses processos, atinge a autotransformação e a autotranscendência. Assim, no campo individual, é capaz de atingir novos níveis operacionais nos aspectos físicos e mentais. A autotransformação é, por exemplo, a trajetória que se percorre do zigoto à fase adulta. Por outro lado, o homem tem a capacidade de superar continuamente o legado da geração anterior, promovendo alterações científicas, tecnológicas e sociais que se refletem profundamente no movimento social de sua época e do por vir. O homem se configura como o ser vivo mais diferenciado e, portanto, como o modelo em que os processos inerentes ao princípio de auto-organização atingem nível de aperfeiçoamento mais relevante. A concepção de um ser humano é fenômeno que, em sua totalidade, transcende ainda nossa capacidade de entendimento. Evidentemente, a fusão dos gametas masculino e feminino envolve processos de multifária complexidade que, pouco a pouco, serão decifrados. Todavia, não se pode vislumbrar nenhum aspecto que transite na esfera intelectual, como só acontece nas máquinas. Ao contrário destas, que podem ter suas especificações predeterminadas e iteradas sucessivamente, o ser humano é sempre uma incógnita que não se repete. Sendo único, é também indivisível. Embora apresente elevada plasticidade (variação dentro de certos limites de sua forma da relação entre seus componentes), mantém alto nível de proficiência, ainda que uma de suas partes seja deficiente ou mesmo lhe falte. O homem não pode ser reduzido as suas partes e, posteriormente, recomposto. Não se pode fracionar impunemente a cadeia de conexões sistêmicas que se auto-afirmam no homem que, por isso, é indivíduo, uma unidade holonômica.
Ao realizar-se um tratamento de Ortopedia Dentofacial, é muito importante o estudo acurado dos vetores de força gerados pela aparatologia. Todavia, restringir-se a esse aspecto, é um cometimento equivocado. Interpretar a ação terapêutica de um aparelho como uma cadeia linear de causa e efeito, equivale a deslizar sobre a epiderme da problemática. Para uma discussão mais profunda das relações aparatologia-paciente, não basta saber como os aparelhos ortopédicos dentofaciais atuam mecanicamente. É fundamental e impostergável, saber como o paciente, enquanto sistema biológico se comporta, considerando os aspectos biofísicos.
De acordo com a primeira lei da termodinâmica, a energia do universo permanece constante. Não pode ser criada nem destruída, só transformada. Todavia, a cada conversão a qualidade piora. Ao realizar-se um trabalho para a passagem de um nível para outro, há liberação de uma energia incapaz de produzir trabalho – a entropia. A Segunda lei da termodinâmica, então, preceitua que a entropia de um sistema físico isolado continuará aumentando até o estado de “morte térmica”, em que a temperatura permanece estabilizada e toda atividade cessa. Como essa evolução de processa com aumento de desordem, a entropia também é conceituada como uma medida de desordem. Os sistemas biológicos evoluíram dos sistemas físicos, apresentando complexidade crescente, fluindo da desordem para a ordem. Há, portanto, uma evolução antagônica: os sistemas físicos em direção à entropia; os sistemas biológicos lutando contra a entropia, que geralmente se manifesta com o calor. Os biossistemas têm a capacidade de trabalhar de maneira muito econômica, despendendo pouca energia em suas atividades. Mesmo em completo repouso, com os músculos relaxados totalmente, o corpo libera calor, cuja velocidade de formação é medida pela taxa metabólica. Parte desse calor é usado para que a temperatura interna se mantenha na faixa ideal de funcionamento do sistema. O restante, obviamente, é de natureza claramente entrópica. O conceito de entropia se estende para todas as áreas em que haja desordem, desorganização. Assim, toda doença é expressão de aumento de entropia.
Nas disgnatias, que é modernamente o termo usado para caracterizar as disfunções do sistema estomatognático, quanto maior a severidade da lesão, maior a entropia. Nesse aspecto, o tratamento Ortopédico Dentofacial visa, portanto, reduzir a entropia dos biossistemas afetados por disgnatias. Melhorando a morfologia e a função do sistema estomatognático, se objetiva a um melhor rendimento energético do sistema fundamental (o corpo). A partir de um enfoque sistêmico, é fácil entender que um tratamento de Ortopedia Dentofacial nunca se restringe à esfera dental ou mesmo bucal. De acordo com o princípio de interdependência das partes de um sistema (tendências integrativas), sua ação se irradia para outros sistemas, beneficiando todo o organismo. Em Ortopedia Dentofacial, os sistemas orgânicos visados como acesso aos canais de comunicação das informações terapêuticas são: o respiratório, o neuromuscular, o esquelético e o dentário. Parece bastante óbvio que a ação terapêutica deva abranger o maior número possível de canais de comunicação, para que provoque um efeito global mais fecundo. Quanto menos canais forem usados, mais localizados os efeitos e menos estáveis os resultados. Por outro lado, esses canais correspondem a sinalizadores do primeiro sistema de sinalização, que se baseando na Teoria dos Sistemas de Sinalização de Pavlov, Prives classificou os analisadores da seguinte maneira: analisadores do mundo exterior, cujas terminações periféricas são os exteroceptores, e os analisadores do mundo interior, cujos receptores são os proprioceptores, que carreiam as excitações dos órgãos da vida animal, como os sentidos mioarticular do equilíbrio, e os interoceptores, que levam às excitações da vida vegetativa (vísceras e vasos). E os analisadores do segundo sistema de sinalização, que são: 1 – analisadores da palavra oral; 2 – analisadores da palavra escrita; 3 – direção, comando. Do ponto de vista cibernético, no entanto, é muito importante que se valorize também o segundo sistema. Considerando que a consciência é o nível de regulação mais complexo e mais global do organismo, é fundamental conscientizar o paciente da importância do tratamento, para despertar a confiança e a colaboração que se irradiam beneficamente por toda a árvore sistêmica.
Convêm acentuar que a constatação de que o paradigma mecanicista não oferece soluções adequadas para os problemas da Ortopedia Dentofacial é bastante antiga. Fränkel expôs seu desacordo com as interpretações vigentes relativas ao modo de ação dos aparelhos funcionais para justificar e esclarecer o uso do “Regulador de Função” (registre-se que este aparelho funcional foi o último avanço técnico-científico realmente relevante em nossa área de trabalho, e foi introduzido a mais de quatro décadas), reclamou a modernização dos conceitos de função e de tratamentos funcionais. Dullemeijer, reverenciando Van der Klaauw, sugeriu a substituição do modelo vigente por outro de natureza holística. Ramón Torres, com a veemência dos justos e a autoridade de sua sólida cultura, verberou a hipervalorização dos fatores mecânicos e estéticos em detrimento do biológico. Sua derradeira obra, “Biologia de La Boca” (1973), é um libelo anti-reducionista, um verdadeiro hino ao encontro de ciência com a tecnologia e a arte.
A partir desse diagnóstico, Dr. Antonio de Padua Ferreira Bueno passou a incorporar as atividades do grupo de estudos de que participamos os valores de uma Cosmovisão Sistêmica, dando ênfase aos aspectos cibernéticos. Este enfoque tem se mostrado tão fecundo e promissor que os colegas que partilham essa atmosfera intelectual o instaram a substanciar em livro as bases do ideário que nos uni. A importância do modelo sistêmico se nos afigura incomensurável. Ao introduzir-nos numa concepção unitária do homem e do universo, entreabre um estimulante veio interpretativo que enriquece de maneira extraordinária nossas atividades profissionais. Como se pode inferir, essa mudança é difícil, laboriosa. Apesar de ser uma reivindicação pouco recente de autores de notório saber e de reputação ilibada, ainda não se consumou. As resistências são muito naturais. O processo tem de ser lento, suave, gradual, porque seria muito traumático se realizado de forma subitânea. É verdade que as coisas intrincicamente não mudam. Trata-se apenas de uma nova forma de ver o antigo, sem alterar seus padrões habituais, sua exterioridade. Como esclarece Kuhn, “a transferência de um paradigma para outro é uma experiência de conversão que não pode ser forçada”. Por isso, este trabalho não tem a pretensão de mudar concepções e convicções, mas de sugerir discussões sobre uma provavelmente fecunda e enriquecedora mudança paradigmática.